Queria não ser Amável.
Pode passar reto por esse texto, vai embora, mete seu pezinho, volta para o seu “doomscroller” maldito repleto de conteúdo de (des)inteligencia artificial.
Não vai ter casal apaixonado, animal endemoniado, poesia clássica e correta, não, somente um desabafo que pode soar esnobe.
Vai mesmo ficar aqui? Bom, não diga depois que foi falta de aviso…
Tá bom, só para desencargo de minha consciência:
CAIA FORA DAQUI IMEDIATAMENTE OU SOFRA AS CONSEQUÊNCIAS DE SUA ESCOLHA.
Caso ainda esteja aqui, acho que esteja curioso(a/e) para saber o motivo de minhas palavras estarem organizadas em texto em um lugar onde possivelmente algum desavisado como você pode ler.
Vamos começar pelo início, tenho o que chamam de “Ansiedade Social”, algo que eu prefiro encarar como “Fobia Social”. Não gosto de interagir com pessoas, na verdade, tenho receio, pavor e qualquer interação não planejada ou inesperada pode me pôr em uma crise de choro por alguns minutos e me deixar mal por horas, se pá o dia inteiro.
Fato que já ocorreu incontáveis vezes, porém demorou muito para eu entender isso e respeitar meus próprios limites, assim como uma pessoa intolerante a lactose insiste em comer derivados de leite sabendo que aquela ação vai cobrar seu preço, um preço bem alto.
Um exemplo bem pessoal, afinal continuo falando de mim. Mas este texto não é sobre a minha luta perdida contra os derivados do leite. É sobre como as pessoas me enxergam, o que elas criam de mim em seus imaginários pessoais.
Devido a minha condição, é natural que eu não saia muito de casa, digo, para coisas que não sejam estritamente necessárias, como compras. Ir ao mercado, a farmácia ou em qualquer comércio é o tipo de interação programada que segue um roteiro, da qual posso ignorar boa parte que não haverá consequência alguma.
“Boa tarde” “Deu X valor” “Débito?” “Pix” “QR code na tela” “Vai precisar de sacola?” “Não” “Quer CPF na nota?” “Quer sua Via?” “Boa tarde”
Posso contar nos dedos de uma mão, cortando fora dois destes, quantas vezes saio para fazer algo que não seja isso no ano. Se for interagir com “Amigos” então, não é necessário nem mão, não possuo amigos.
E sim, eu sei exatamente quantas vezes foram, pois tenho um diário que venho levando a mais ou menos uns 3 anos, onde anoto todas as atividades que faço no dia, pontos negativos e positivos e o meu humor que varia mais que cotação de criptomoeda (este assunto continuará na sombra do anonimato, ao menos por hora).
Então meu kit básico de segurança envolve algumas coisas como abafador e fone de ouvido. Me deixa indignada o fato das pessoas ao redor não respeitarem esses recados visuais claros de que EU NÃO QUERO UMA INTERAÇÃO SEM O MEU CONSENTIMENTO, quando me tocam para chamar a atenção, a minha vontade mais genuína e verdadeira é de querer MORRER.
Mas acima de todos esses detalhes, uma pequena parcela do que me compõe, existe um agravante. As pessoas me consideram uma pessoa amável, carismática e quem tem contato comigo, apaixonante.
Eu não quero parecer uma pessoa boa, não quero ser considerada uma pessoa da qual você quer estar próxima, quer interagir, quer fazer amizade, não quero que você se ache no direito de invadir o meu espaço como uma psicopata para forçar uma interação comigo.
Entendo, que no mundo lá fora é assim que funciona, porque este foi feito e moldado para pessoas neurotipicas, onde não existe um problema implícito em agir dessa forma desagradável, mas comigo não funciona assim.
Não me entenda errado, não estou falando que eu não seja ou não queira ser uma pessoa boa, ou legal. Estou somente dizendo que eu gostaria de não parecer.
Não tenho como mudar quem sou, minha linguagem corporal, meu jeito de ser e que querendo ou não tenho que aceitar o fardo de que as pessoas vão gostar de mim, até mesmo sem me conhecer e as que me conhecem certamente vão hora ou outra se apaixonar (caso estejam abertas a isso). Não consigo controlar os meus sentimentos e pensamentos a respeito de qualquer coisa que seja, quem dirá controlar o que o terceiro irá pensar ou sentir.
Esse desabafo não tem a intenção de me fazer de coitada, de chegar a uma conclusão ou mesmo de ser lido. Só queria ao menos uma vez usar da minha melhor forma de expressar sentimentos para isso; sem personagens, sem tramas, sem objetivos e sem a obrigação de um final digno.
Se você chegou até aqui, não sei nem o que lhe dizer, um Obrigado talvez? Sim, definitivamente Obrigado.






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